domingo, 20 de maio de 2012


Uma mudança chamada industrialização

Municípios pequenos do Estado começam a vivenciar as transformações provocadas pela chegada de fábricas de médio e grande porte. Transformação socioeconômica impõe mais responsabilidades ao poder público

Publicado em 20/05/2012, às 09h00

Adriana Guarda e Felipe Lima



Brejão e Glória do Goitá são exemplos díspares. O município da Mata Norte, que sempre viveu da agricultura, agora vai abrigar uma fábrica de peças para motores da WHB Fundição e uma indústria de macarrão instantâneo da Nissin/Ajinomoto. Na cidade só se fala disso. Nas oportunidades de trabalho que vão evitar a migração para outros municípios e a dependência do emprego na prefeitura.
Wilma Santos de Menezes, de 22 anos, é uma dos 220 alunos que estão se qualificando na escola da WHB para trabalhar na fábrica. “Nunca imaginei que trabalharia numa indústria de peças para automóveis. Quem terminava o ensino médio aqui em Glória tinah que ir procurar emprego no Recife ou em outra cidade”, conta, dizendo que não vê a hora de vestir a farda da indústria, que está em fase de construção e começa a operar no próximo ano. A paranaense WHB está investindo R$ 300 milhões num primeiro momento para fabricar virabrequins (coração do motor automotivo). A empresa também vai construir um hotel no município para abrigar seus funcionários, fornecedores e executivos que precisam visitar a cidade.
Um dos menores municípios do Estado, com cerca de 10 mil habitantes, Brejão aguarda com descrença a sua revolução industrial. A Notaro Alimentos vai gastar R$ 40 milhões para erguer uma fábrica de embutidos de frango que vai empregar 400 pessoas. O presidente da empresa, Marcos Notaro, afirma que a construção da planta só começa em 2013. Quando estiver rodando, terá capacidade para produzir duas toneladas de embutidos por hora. A prefeitura de Brejão conta que as negociações com a empresa duraram dois anos. A população da cidade, entretanto, comenta que a chegada da unidade é prometida há quase uma década.
A Notaro vai ocupar 45 hectares (ha) de uma área total de 71 ha, adquirida pelo governo do Estado e que será doada a investidores industriais. Os 25 ha restante tem sido oferecidos a outras 14 empresas que analisam Brejão como possível destino de suas novas fábricas. A lista apresentada pelo prefeito Sandoval Cadengue (PSB) conta com a fabricante paranaense de papel higiênico Embalagens Bacarin; a produtora caruaruense de louças e vasos sanitários Luzarte Estrela (R$ 20 milhões e 300 empregos); e uma planta de armações para óculos da Clinope (R$ 3 milhões e 150 postos), dentre outras.
O tamanho do entusiasmo em ano eleitoral é equivalente à lista de desafios. As deficiências são primárias em Brejão. A água que sai das torneiras de lá "não dá nem para lavar as mãos", comenta o comerciante Adesildo Carvalho. O presidente da Câmara de Vereadores do município, Luciano Caetano (PMN), ex-aliado do prefeito, diz categoricamente que "ninguém está capacitado para trabalhar em uma fábrica na cidade”. “Não há moradias. Os jovens estão desistimulados. E 80% dos comerciantes são contra o prefeito", ataca.
Desconfianças à parte, a avicultura, atividade recente na cidade, promete ser a primeira atividade econômica de Brejão impulsionada pela chegada da Notaro. Há cinco anos, pessoas da cidade começaram a se tornar integrados - terceirizados que monitoram a engorda das aves - de granjas de Bom Conselho. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rebanho de aves gira em torno de 369,6 mil cabeças. O integrado Adriano Rabelo acredita que a fábrica de embutidos aumentará na concorrência e, consequentemente, elevará o preço pago pela taxa de engorda de frangos, que varia de R$ 0,30 a R$ 0,70 por cabeça.

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